Resolvi abrir aquela gaveta que de tão áspera suas
impurezas, atordoavam meus pensamentos mas mesmo assim não deixei de abri-la
para conferir o que havia. Remexi todos aqueles objetos que num instante a
gaveta se tornou uma caixa enorme, pois cabia o meu universo todo inteiro lá
dentro. Mal sabia eu que abrindo aquela gaveta, eu me tornaria viril e
compacta. Articulei-me com palavras proferidas ao tempo por todos aqueles anos,
abraços que neguei e que com o tempo senti falta; um sorriso que ofereci sem receber
outro em troca e olhares que se cruzaram à minha frente. Os três sentidos da
vida: Abraçar, sorrir e trocar olhares. São os atos que mais fazem jus ao amor
ao próximo, são os únicos que todos os poetas tentaram entender porque fazia
tão sentido explorá-los. Mas não são os únicos que encontrei lá na gaveta. Eu
pedi um pouco mais de espaço, e sei disso, pois por causa de tanta bagunça,
comecei a só jogar tudo isso de volta na gaveta por falta de paciência a
organizar tudo quando precisava de um ou outro. “Voltarei sorrindo ao vento que
sopra, voltarei chorando ao vento que me solta” Eu não queria liberdade, queria
segurança. Reclamava de tudo o que me prendia, mas não queria ser solta.
Controvérsias do meu corpo. Não sabia se queria um ou outro.
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