terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O horário de visitas acabou



O doente repousa na maca
O outro encosta a mão em seus pés
Não quer sentir os pés gelados
O gelado lembra a morte

Pérfida morte,
Em que esvaindo a alma
As palavras fluem grotescamente
Junto aos eletrogramas

“A família tá bem”
“A tia pegou um resfriado”
“Lá fora chove”
Como se as notícias, ao fim e ao cabo,
Iriam pôr fim naquele silêncio estrondoso.

O horário de visita acabou
Os pensamentos continuam lá
Naquela maca, naquele doente
Nos outros doentes que estavam acordados
Mas aquele estava dormindo,
Continuou dormindo quando
O horário de visitas acabou

Tiram-se as roupas brancas,
Lava-se a mãos,
Secam algumas lágrimas,
Reza-se um terço
Dois
Três
Que Deus faça o que for melhor.

O horário de visitas acabou.
Não o vi mais.

Nunca mais.

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Pessoas que não tem borrachas.